Friday, July 9, 2021

LYDIA LUNCH - Performance - 07/07/2018

Lydia Lunch é uma das mais importantes personalidades do meio musical da no-wave e do post-punk de Nova York dos anos 80. É uma pioneira e uma sobrevivente de um género apaixonante, literário, sem barreiras estéticas e ideológicas, do melhor que a música underground nos deu ao longo destas últimas décadas. Faz parte de uma geração de génios e de personalidades influentes, tanto a nível musical, de escrita e de performance, e por isso mesmo é história viva, ou lenda-viva, da música popular de pendor underground, conforme se a quiser catalogar.


Lydia Lunch Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas


A artista apresentou-se ao público, no passado sábado, na Galeria Municipal do Porto, com o seu apaixonante trabalho de tipologia spoken word de nome Dust and Shadows, no seguimento da exposição “O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã” (uma mostra de artistas locais emergentes com trabalhos orientados dentro da temática das suas experiências de vida noturna – através de cartazes e imagens para eventos de música eletrónica, DJ sets e outros), e onde o nome maior - e eventualmente o catalisador desta exposição - é o enorme artista norte-americano RaymondPettibon, o autor de toda a estética gráfica dos grandiosos Black Flag, uma das mais importantes e seminais bandas do punk-hardcore global. De forma muito resumida, a estética do preto e branco de proporções grotescas e cruas, em muitos casos minimal e “mal desenhada” de forma naíf, é o que une todos estes artistas. Uma exposição que recomendo vivamente para ser visitada.

Lydia Lunch Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas

Lydia Lunch conduziu-nos de forma hipnótica para uma alucinante performance da palavra, transformada em qual artefacto psicadélico de divagação dos pensamentos urgentes e depressivos que assolam a mente da artista e que é simplesmente assombrosa, e não deixa ninguém indiferente. Porque o que esta nos confronta ao longo de 45 minutos é simplesmente a Vida em todas as vertentes possíveis e imagináveis do indivíduo.



Lydia Lunch Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas

Inicialmente focando-se sobre a liberdade no seu entendimento mais politizado, de como o Estado e as corporações nos controlam a todos, desde o mero uso de um cartão Visa até à tv e internet, de imediato passa para um ataque cerrado aos EUA nas suas mais variadas idiossincrasias que são, de forma fulminante, postas a cru, recorrendo para o seu conceito pessoal de caos e do seu poder libertador, levando-nos ao seu mundo obscuro dos fantasmas-emoções que nos atormentam as memórias, avisando-nos de antemão, de que um dia mais tarde, seremos também um deles. Há um extasiante humor negro, em violenta convulsão, em tudo o que a artista aborda, como se não houvesse salvação. Ela afirma-se uma sobrevivente, de todos os tipos de vidas e de drogas, reais e imaginárias. Mas é precisamente nesta aparente negatividade que reside todo o amor pela Vida, pela Mãe-Natureza, e pelo Indivíduo por parte de Lydia Lunch. Quando nos revela, de forma agressiva e desafiadora, que a verdadeira e única rebelião é o prazer, é mais do que óbvio que estamos perante alguém com imensa substância; uma mente rara com coisas importantes para ser escutada. No final do seu espetáculo, disserta, em forma pungente de elogio fúnebre, arrepiante e angustiante, sobre o que se pode dizer a alguém que só tem 30 dias de vida e que passa só a ter 30 horas de vida e que passa rapidamente a ter 3 horas e só mais 3 minutos, envenenado com medicação, a tentar lutar pela vida, a tentar a todo o custo salvar a esperança para uma vida que se apaga… e só restam mais 3 segundos de vida e a única coisa que se pode fazer é dar as mãos a quem morre e dizer que rapidamente passarás a ser um rei e num vórtex de luz entras numa outra dimensão, feito em partículas subatómicas no éter, em cinzas… este é um momento que jamais se esquece, porque é algo muito forte, de visualização intensamente evidente da forma como a artista se expôe publicamente nesta temática do fim da Vida. Este momento do espetáculo é muito impactante, feito num sentimento que jamais centenas de bandas barulhentas de rock e afins alguma vez conseguirão fazer passar para uma audiência. A palavra, quando bem usada, é muito poderosa… avassaladora.


Lydia Lunch Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas


Lydia Lunch Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas


Lydia Lunch Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas


O que retive essencialmente desta mais recente performance da artista (que já nos visitou por diversas vezes no passado), é que de forma ostensiva, Lydia Lunch é uma espécie de upgrade atualizado e muito peculiar das grandes cantoras de blues e do jazz do passado, uma diva da devassidão e do caos, do prazer e da luxúria; senhora de uma voz poderosa e de grande alcance tímbrico, que apregoa a liberdade de uma forma que não é óbvia nem do senso-comum. É nisso que é uma fora de série; uma entre biliões. Para além disso, é também alguém com consciência política ativa; encontra sempre uma forma de relacionar temas iminentemente literários e emotivos com uma realidade social dura e crua, atacando de forma ácida o que tiver de ser destruído na sua conceção do real.
Por isso, estou em crer, que assistir a uma sua performance, é sempre uma experiência de vida inesquecível, daquelas que perdurarão eternamente nas nossas memórias. Pelo menos foi isso que aconteceu comigo.



Exposição "O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã" Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas



Exposição "O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã" Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas



Exposição "O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã" Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas



Exposição "O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã" Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas



Exposição "O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã" Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas



Exposição "O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã" Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas



Exposição "O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã" Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas



Exposição "O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã" Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas



Exposição "O ontem morreu hoje, o hoje morre amanhã" Galeria Munipal do Porto, Porto, Portugal © Guilherme Lucas


- com Official: Lydia Lunch:
https://www.facebook.com/LydiaLunch

Post original do Facebook:
https://www.facebook.com/guilherme.lucas.92/posts/1768846729871174


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