Memories of a gig goer / Memórias de um frequentador de concertos.
Sunday, July 11, 2021
BONE ZENO - Festa de encerramento Porto Femme - 03/06/2018
Festa de Encerramento Porto Femme - BONE ZENO - Bone Zeno apresentou no Barracuda - Clube de Roque,
no sábado passado, o seu mais recente álbum, de nome Black Milk
(Impression Recordings, 2017). Fazer esta review de forma isenta é-me
impossível de todo, pois amo verdadeiramente a música deste homem,
já vai para muitos longos anos, quando ainda era [D-66] e
atuava pontualmente no bar Porto-Rio= Barco Gandufe, no seu anterior projeto. Por isso esta vai ser
necessariamente uma review de exercício de memórias, de amor e
paixão pelo rock’n’roll underground, personificado neste senhor.
Para que se entenda
rapidamente, Bone Zeno é um projeto one man band, dentro do blues e do
trash/punk. É também, por essa via, a forma como este alemão, a
viver presentemente em Coimbra, extravasa todo os seus fantasmas e
ideais de vida viciosos e caóticos, de uma forma completamente única
e singular. No universo imenso das one man bands, que pululam um
pouco por todo o lado na atualidade, Bone Zeno, é para mim o melhor
e o maior de todos. É simplesmente muito grande, enorme. E penso
isto desde há muitos anos, até porque considero ter um relativo bom
conhecimento de outros artistas dentro deste tipo de formato, tanto
ao vivo como discograficamente. E então é diferente dos outros em
quê? Direi que é quase impossível haver alguém mais louco e
excitante em palco, a tocar dentro do seu estilo musical, nos dias de
hoje, sem utilização a recursos de distração iconográfica. E
reforço também que dentro do seu estilo musical, ou seja, da música
que faz, é para o meu gosto pessoal, completamente fascinante. Para
mim Bone Zeno é a mais perfeita personificação do bluesman do post
punk, das latitudes do noise guitar de um Rowland S. Howard,
entrecruzado com o delicioso deboche caótico de uns The Birthday
Party ou The Cramps, algures entre um Tom Waits, um Nick Cave, um Lux
Interior… ou até de um Jerry Lee Lewis, quando jovem, todos juntos
numa só pessoa e a destilar a mais das puras selvajarias em palco.
A energia e a
sensação imediata de que estamos a assistir a algo de grande dentro
do rock, é-nos logo transmitida aos primeiros acordes de abertura do
concerto; qualquer verdadeiro amante de rock percebe imediatamente que a
partir daí o mais natural é deixar-se ser levado pelo turbilhão de
insanidade que se avizinha, qual tsunami. Já vejo Bone Zeno há mais
de 11-13 anos (por aí), desde que se apresenta sempre no Porto, e
até agora não faltei à pregação caótica uma única vez. Estive
na primeira, quando este era baterista dos The Parkinsons e atuou no Porto-Rio, num concerto incrível,
daqueles inesquecíveis e habituais da banda, e depois de todas as
outras vezes que sempre lá se apresentou a solo como D-66 ao longo
do tempo (num deles, quase que consegui destruír parte da sua
performance (pois fiquei completamente possuído pela sua música),
mas também do qual resultou o bom contato que ambos mantemos até
aos dias de hoje. A última vez que o vi, foi no extinto CAVE 45, e foi igualmente excelente, dentro do que sempre espero da
sua atuação ao vivo. Nunca me desiludiu até hoje. Por isso, só
faltarei a um concerto de Bone Zeno por questões de força maior,
como facilmente se percebe.
O concerto deste
sábado passado foi mais um dentro do mesmo registo habitual de Bone
Zeno; entre a loucura e o caos, mas também entre a profundidade e a
excelência que todos os seus temas oferecem, sem exceção. Aliás,
Black Milk, que estava a ser, em muitos dos seus temas, dissecado em
palco, é um excelente álbum; daqueles que ouvi, de forma viciante,
em 2017 durante semanas seguidas e em modo de repeat diário. Foi,
por essas semanas, a minha banda sonora de vida. Todas as vezes que um concerto dele finaliza, questiono-me da razão de Bone Zeno não ter uma carreira maior, e acho que a resposta resvala sempre para o óbvio: é demasiado selvagem e insano para ser “domado”, para que se permita, por si mesmo, concretizar os objetivos de um hipotético agente ou até de management, com a seriedade e a credibilidade com que muitos deles gerem as carreiras de outros artistas. É, também por isso, que adoro este homem e a sua música.
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